O Leopardo
Itália – 1963
Burt Lancaster, Claudia Cardinale, Alain Delon
Um pouco da história italiana.
Na Sicília de 1861, a revolução garibaldina chega anunciando a
unificação da Itália e o fim, para a aristocracia local, de toda uma
era. Sobrinho preferido de Dom Fabrizio, Tancredi (Alain Delon), se
engaja espertamente na revolução, legando ao tio o lema: "É preciso
mudar para que tudo continue como está". Esta frase justifica todas as
revoluções do século 20 na região, garantindo a ascensão de um governo
de centro-esquerda para que não houvesse mudança das relações sociais.
Em "O Leopardo", a consciência histórica de Visconti (diretor) passa
pela sensibilidade e o desencanto de Dom Fabrizio e sua índole
aristocrática, fazendo o inventário cenográfico de palacetes, roupas,
móveis, modas, daí a importância da seqüência final do baile (que
Visconti levou quatro semanas para executar). É também neste momento
em que em que dom Fabrizio chega a plena compreensão do tempo perdido
– outra característica forte nos filmes de Visconti, a sensação de que
já é tarde demais. Neste grande baile aristocrata, rito fúnebre de
uma classe moribunda, Tancredi consuma seus ditames, anunciando seu
casamento com a bela filha (Cardinale) de um burguês emergente, cena
em que Visconti resolve retratar a história do casamento de seus pais
e um pouco de seu próprio tempo perdido.
O engraçado é perceber como estas histórias reais mudam atitudes dos
atores. Em outro material divulgado na internet, encontramos duas
imagens bem distintas: a primeira é a imagem de Lancaster, astro
hollywoodiano que desembarca de um avião estampando seu famoso sorriso
de gato de Alice e um grande topete no início da produção e na
segunda, ele está bem diferente, nos bastidores da filmagem, ao lado
de Visconti e igualzinho a ele: de óculos escuros e cigarrilha,
taciturno e elegante.
Os costumes e experiências ditam a moda e a moda dita os costumes e
experiências.